Realmente é difícil admitir, mas
a professora Raquel Lazzari, da UNESP tem razão ao comentar que ainda há
escolas onde o uso da leitura é apoio para que o aluno aprenda determinada matéria
ou conteúdo. Tudo bem, cada um tem seu método, mas a leitura não é um mero
apoio. A leitura deve ser encarada como um ato natural, onde se adquire
cultura, aprendizado, onde o leitor encontra prazer. A leitura deve ser
encarada também como um deleite para qualquer leitor e não uma obrigação. E a
formação do leitor começa em casa, com a família, observando quem é leitor. Mas
quando isso não acontece, claro que a escola colabora para que essa formação
aconteça, mas sem ser apenas uma obrigação. Incentivar a leitura e formar um
leitor não é apenas fazer com que o aluno leia algo com a finalidade de
aprender uma matéria, mas mostrar que ler é prazeroso.
Brasil enfrenta o desafio de formar
novos leitores
Flávio Aquistapace - 10/05/12
No dia 23 de abril, o governo
federal anunciou um investimento, via ministério da Cultura, de R$373 milhões
na construção e revitalização de bibliotecas; contratação de agentes de leitura
e na realização de feiras e festivais de literatura. Segundo a chefe da pasta,
Ana de Hollanda, “a leitura não é um ato reflexo, aprendido naturalmente. É
resultado de uma sofisticada operação, aprendida ao longo de anos e que, por
isso mesmo, precisa ser cultivada cuidadosamente, para além dos muros da
escola”.
Reconhecer na leitura um
raciocínio crítico significa reputar ao leitor o papel de produtor de sentidos,
capaz de romper com os aspectos superficiais do texto. É quando a atividade
ganha outros significados, conferindo ao sujeito aquilo que os estudiosos
chamam de “competência leitora”. A posição é defendida pela pesquisadora e
doutoranda em História da Leitura, Rosária Boldarine. “A competência leitora
não é uma qualidade inata. Requer um trabalho árduo que deve ser iniciado na
escola”, adverte.
Pesquisa revela que 75% dos
entrevistados jamais pisaram em uma biblioteca.
No momento em que o país passa
por um desenvolvimento econômico inigualável, com queda nas taxas de
mortalidade infantil e aumento dos índices de escolaridade na última década,
segundo o Censo 2010 do IBGE – ainda que a passos lentos, e muito distante do
alcançado por países ricos –, surge no horizonte o desafio de devolver à
leitura o prestígio e a utilidade de outrora.
Pesquisa encomendada pelo
Instituto Pró-livro e Ibope Inteligência, a terceira edição do mapeamento
“Retratos da Leitura no Brasil”, mostra que ler está entre as atividades menos
cotadas dos entrevistados. O total de pessoas que afirmam cultivar o hábito de
ler em seu tempo livre caiu, entre 2007 e 2011, de 36% para 24%.
Outro dado levantado pelo estudo,
um dos mais repercutidos, dá conta que 75% dos entrevistados jamais pisaram
numa biblioteca.
Para atrair potenciais leitores,
as novas bibliotecas a serem construídas pelo governo estarão situadas em
locais que reúnem outras atividades além da leitura, como é o caso dos
telecentros e praças. Acredita-se que a diversidade de usos possa gerar uma
nova circulação de interesses, aproximando as pessoas dos livros.
Novos Leitores
A formação de novos leitores
normalmente acontece pela convivência e pelo estímulo desempenhado por outros
atores sociais, tais como a família, demais leitores e até professores. Segundo
a pesquisadora Boldarine, “um leitor dificilmente se forma sozinho. Inúmeros
estudos indicam a necessidade de um mediador no início da prática leitora”.
Incidem também nos costumes as
transformações históricas recentes nos arranjos familiares tradicionais. “Com a
entrada da mulher no mercado de trabalho, e as novas configurações para a
família, as crianças dificilmente têm em casa um momento para que o incentivo à
leitura ocorra”, avalia Boldarine.
Escola
Formar leitores no ambiente
escolar, sujeito a todas as regras da convivência institucional, ainda é um
desafio. “A leitura aparece como uma forma de controle do professor sobre o
aluno”, argumenta a professora Raquel Lazzari, livre-docente em Didática pela
Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). “O aluno passa a atuar como
tradutor da leitura do professor, e não como leitor”, diz.
Geralmente, é necessário um
mediador no início da prática leitora.
“Muitas vezes o aluno internaliza
o princípio segundo o qual sua leitura deve ser balizada pelas referências
construídas pelo professor”, alerta Lazzari. Segundo ela, embora as práticas de
leitura estejam vinculadas à escolaridade, é necessário debater como ampliá-las
dentro e fora da sala de aula.
Para Lazzari, é importante criar
uma condição favorável para avaliar as situações em que a leitura ocorre, tais
como os critérios ao se decidir por esse ou aquele texto. “Muitas vezes
ensina-se literatura para aprender Gramática, História ou para redigir melhor.
Mesmo obras de reconhecido valor artístico perdem na escola seu poder de
encantamento. Houve avanços, mas ainda há muito por fazer”, reforça a
professora.
Lazzari aponta ainda que a
leitura não está destinada apenas a apreensão de um conteúdo, ou a um estudo.
Ela é, antes de tudo, uma prática cidadã. “Qualquer pessoa que não tenha acesso
ao capital cultural de uma sociedade ‘letrada’ foi roubada em um direito básico
de cidadania. Esse roubo retira a possibilidade de autonomia crítica e de
trânsito pelas instituições legitimadas por essa sociedade”, finaliza.
Fonte: Portal
Aprendiz
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