O que é o riso? Em que situações ele ocorre? É
exclusivamente humano? Desde que o filósofo grego Aristóteles declarou que “o
homem é o único animal que ri”, um bocado de gente vem quebrando a cabeça nos
últimos 2 000 anos para definir esse fenômeno. Embora a Filosofia (Platão,
Kant, Bergson) e, mais tarde, a Psicologia (Freud) tenham se debruçado sobre o
riso, o fato é que pouco se elucidou a respeito no mundo das ciências naturais.
“Assim como o amor, o riso passou ao largo do escrutínio dos cientistas”,
afirma Robert R. Provine, o primeiro a admitir que, não fosse o preconceito da
academia com o tema, suas conclusões poderiam ter vindo à tona há pelo menos
300 anos nas mãos de outro pesquisador.
“A risada é um ato de natureza psicológica e biológica que
nos aproxima de nossos primos, os macacos”, diz Provine. E aproxima mesmo. O
naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), em A Expressão das
Emoções no Homem e nos Animais, já registrava que, se alguém fizesse cócegas
num jovem chimpanzé, ele seria capaz de emitir sons semelhantes a risadas.
Talvez cães, como vem tentando provar uma pesquisa recente levada a cabo por
especialistas da Universidade de Sierra Nevada, Estados Unidos, também sejam
capazes de rir. O estudo levou em conta as alterações na respiração do melhor
amigo do homem. “Durante brincadeiras, cães vocalizam um som semelhante à
risada”, afirma a psicóloga Patricia Simonet, que já publicou uma série de
ensaios sobre o assunto nas principais revistas científicas americanas.
Seres humanos também costumam gargalhar quando alguém lhe
faz cócegas. Entre exemplares do homo
sapiens as cócegas apenas surtem o efeito esperado quando feitas por
conhecidos. “Se um estranho fizer cócegas numa criança, ela gritará de medo”,
escreveu Darwin. Durante sua pesquisa, Provine descobriu que a importância
social das cócegas vai muito além do que se imagina. Por exemplo: ninguém é
capaz de rir das cócegas que faz em
si. E (esta é a melhor parte) se homens e mulheres fazem
cócegas um no outro, é romance na certa.
Mas a importância do riso vai além disso. “O potencial da
risada na saúde ainda não mereceu a devida atenção dos especialistas”, afirma
Provine. Embora filmes como Patch Adams: O Amor É Contagioso (1998), estrelado
pelo comediante Robin Williams e baseado na história do médico que usava o
humor para tratar de seus pacientes, apregoem a importância terapêutica de uma
sonora gargalhada, ainda são poucos os especialistas em saúde que se interessam
pelo assunto.
Há mudanças. A surrada frase “rir é o melhor remédio” parece
ter cada vez mais sentido para a ciência. O cardiologista Michael Miller, da
Universidade de Maryland, Estados Unidos, liderou uma pesquisa sobre os
benefícios do riso para a saúde do coração. Chegou a resultados surpreendentes.
Comparando as atitudes diante da vida de 150 pessoas com histórico de enfarto
com o mesmo número de pessoas sadias, descobriu que aquelas que nunca tinham
sofrido com problemas no coração eram as que demonstravam bom humor constante.
Para evitar problemas cardíacos, Miller recomenda combinar a velha receita de
saúde (exercícios físicos regulares e dieta balanceada) com algumas gargalhadas
durante o dia.
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